THINK:

domingo, 22 de setembro de 2013

A Cidade-Fantasma

Quando o lobisomem voltou a falar, sua voz soou asperamente:
— Você já viu o Nada, filhinho?
— Já, muitas vezes.
— Que aspecto tem?
— É como se uma pessoa estivesse cega.
— Pois bem. . . Quando entram no Nada, ele se apodera de vocês. Passam a ser como uma doença contagiosa, que cega os homens, tornando-os incapazes de distinguir entre a aparência e a realidade. Sabe o nome que eles dão a vocês?
— Não, murmurou Atreiú.
— Mentiras!, ladrou Gmork.
Atreiú abanou a cabeça. Seus lábios estavam pálidos.
— Como pode ser isso?
Gmork deliciava-se com o espanto de Atreiú. A conversa animava-o visivelmente. Ao fim de um momento, continuou:
— Você me pergunta como vai ser lá nesse mundo? Mas o que é você aqui?
Que são todos vocês, seres de Fantasia? Figuras de sonho, invenções do reino da poesia, personagens de uma História Sem Fim! Você se julga real, filhinho? Pois bem, aqui, neste mundo, você é. Mas, se entrar no Nada, deixa de existir. Você se tornará irreconhecível. Passará a existir num outro mundo. Nesse mundo, vocês deixam de ser aquilo que eram. Levam ao mundo dos homens a cegueira e a ilusão. Sabe o que aconteceu a todos os habitantes da Cidade Fantasma que se lançaram no Nada, filhinho?
— Não, gaguejou Atreiú.
— Transformaram-se em desvarios da mente humana, em imagens geradas pelo medo, quando, na realidade, não há nada a temer; em desejo de coisas que os tornam doentes, em idéias de desespero, quando não há razões para desesperar.
...
...
...
— Fazer deles o quê?
— Tudo o que quiserem. Vocês têm poder sobre eles. E nada tem mais poder sobre o homem do que a mentira. Porque os homens, filhinho, vivem de idéias. E as idéias podem ser dirigidas. Esse poder é o único que conta. É por isso que eu tenho estado do lado do poder e o servi, para poder participar dele. . .embora de forma diferente da sua e da dos seres iguais a você.
— Eu não quero participar dele!, balbuciou Atreiú.
— Calma, pequeno louco, rosnou o lobisomem. Quando chegar a sua vez de saltar para o Nada, você se transformará também num servidor do poder, desfigurado e sem vontade própria. Quem sabe para o que vai servir. É possível que, com sua ajuda, se possam convencer os homens a comprar o que não necessitam, a odiar o que não conhecem, a acreditar no que os domina ou a duvidar do que os podia salvar. Por seu intermédio, pequenos seres de Fantasia, fazem-se grandes negócios no mundo dos homens, desencadeiam-se guerras, fundam-se impérios. . .
...
...
...
— Agora você sabe como pode chegar ao mundo, dos homens, disse.
Continua a querer fazer isso, filhinho?
Atreiú fez que não com a cabeça.
— Não quero me transformar numa mentira, murmurou.


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Ainda bem que deixei para hoje A Mina das Imagens, eu mesmo ando vasculhando meus antigos sonhos, esquecidos, ainda bem que quando os encontro um não são tão frágeis, quando coloco uma ideia na cabeça agora é difícil de tirar. Estou revisitando vários, e quero revive-los assim que possível.

Por sinal, cheguei ao fim, do livro, pois a história não tem fim. Será que conseguirei levar alguém para Fantasia? É uma tarefa interessante e um bom presente para se dar.

Enquanto tentava comprar o livro, esgotado em tudo quanto é lugar, esbarrei no ebook em português, depois de ler tudo em inglês, bom é ótimo para citações como pode ser visto acima.

Uma outra questão, o livro refere-se a si mesmo tendo letras capitais imensas no inicio dos capítulos mais de uma vez.

Acabei encontrando uma página da primeira edição em alemão



São as mesmas!

Pelo que li, a primeira edição em alemão ainda tem mais ilustrações que as subsequentes, batendo 446 páginas, enquanto uma edição normal tem 397. O nome da ilustradora é Roswitha Quadflieg se quiser mergulhar mais no assunto.

É isso, o livro é excelente! Fiquei com um gostinho de mais, vou acabar relendo agora que tenho uma boa visão da história pois é cheia de detalhes. Aposto que MUITA coisa passou despercebida pelos meus olhos.

Obrigada por me trazer Águas da Vida!

4 comentários:

  1. Nádia writes:YES: foi cumprida mais uma parte da minha missão nesse mundo! Ainda tô de cara com o fato de você ter devorado o livro em duas semanas! Só acho realmente uma pena que você não tenha lido o meu impresso emprestado... morro de ciúmes dele, mas como as pessoas para quem já emprestei eram de total confiança, tornava a coisa toda mais real, sabe. E que bom que você conseguiu encontrar a versão em português - tinha ficado impressionada com essa tradução tão perfeita hahaha! A propósito, essa parte é FODA! Então, peguei meu livro agora e abri nessa mesma página da ilustração e é idêntico! Assim que tiver tempo quero sim ver mais sobre essa 1ª versão.Bem, não lembro dessa parte da Mina das Imagens... vou ter que aguardar até ler de novo: mas fico feliz em saber que seus antigos sonhos ainda estão aí!No mais, adoro essa resenha que encontrei na época em que comecei meu blog... o link pro texto original não está mais disponível, então deixo aqui o que postei na época, destaquei o que achei mais interessante: http://melimaenomenon.blogspot.com.br/2009/10/historia-sem-fim-parte-1.html

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  2. Quer saber, foi melhor assim. Sempre evito pegar livros emprestados, os acho insubstituíveis, tem notas, dedicatórias e eu sou um desastre! Se tivesse com o seu nas mãos provavelmente ganharia uns amassados, teria lido as pressas para te devolver e não poderia anotar nada!Ainda dá para ler a resenha original, voltando em artigos e escolhendo novamente, apenas o link direto está quebrado.O livro lida com muitas questões, sei que para cada um que lê é diferente, eu passei batido pela Dama Aiuola por exemplo, essa parte não significa nada para mim, porém a busca pelos sonhos perdidos isso sim estou fazendo, assim como ainda não terminei todas as histórias que comecei por aqui e me sinto preso por isso. Uma delas ninguém pode terminar por mim infelizmente.Xayíde merecia um final melhor, Gmork foi tão espetacular, o único porém do livro.No meio do livro pensei, já que estou lendo a história sem fim, poderia corrigir outro erro da minha infância e ler O Pequeno Príncipe e é isto que estou fazendo agora. Tão bom desejar um livro e te-lo instantaneamente e nem preciso do AURYN para isso.

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  3. Nádia writes:Taí, tem uns cinco anos que li "O Pequeno Príncipe"... lembro que tava viajando e nem prestei atenção direito, apesar de ter adotado algumas das expressões que ele usa. Uma boa agora seria tentar ler em francês! Acabei de baixar enquanto escrevia aqui, valeu pela lembrança! AH: não lembro o que acontece com o Gmork... Xayíde foi levada por uma carruagem com vida própria ou coisa que o valha ou eu tô viajando?

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  4. É um bom livro para se ler em francês!Gmork mal aparece no inicio do livro, depois Atreyu o reencontra nesse dialogo incrível acima e ele morre. Xayide passa 1/8 do livro do lado de Bastian e depois é simplesmente atropelada por sua armada. Sem nenhuma revelação qualquer.

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